Recrutamento, seleção e treinamentos em tempos incertos
Em momentos incertos, faz-se ainda mais necessária a atenção aos processos do recrutamento e treinamentosPublicado em 06/04/2020
Em um cenário de tensão e incerteza, promovido por uma crise mundial, algumas empresas já estão sentindo os impactos sendo refletidos nos processos de recrutamento, seleção e treinamentos.
Um dos principais papéis do rh é cuidar das pessoas e certificar que tudo vai continuar funcionando da melhor maneira. A saúde e o bem-estar dos colaboradores são fundamentais. As organizações devem cuidar da saúde e segurança das pessoas no trabalho e, o rh deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para tomar as precauções necessárias, assim como apoiar as pessoas que tiveram a alternativa de trabalhar em home office ou até mesmo traçar estratégicas de processo de seleção por vídeo para funções das quais a empresa está necessitando no momento, por conta até mesmo da situação imprevista.
Como buscar profissionais, tanto fora quanto dentro da organização, para ocupar funções em um momento em que a sociedade vive um clima de pandemia e controle do vírus por meio de distanciamento social?
Pós-COVID-19: Quais serão os impactos?
Processos eficazes de recrutamento e seleção garantem que os profissionais certos, com a combinação acertada de habilidades e experiência e organizacional, estejam alinhados com os objetivos da organização.
Flora Alves, CLO e sócia da SG Aprendizagem Corporativa Desenhada sob Medida, explica que a área de Recursos Humanos precisa se adaptar com velocidade às necessidades impostas pela pandemia. Home office se tornou uma realidade da noite para o dia, mas a legislação não mudou. “Pessoas que antes nunca tinham trabalhado de maneira remota precisam agora se adaptar rapidamente para que possam seguir executando seu trabalho de maneira produtiva e saudável”.
Recrutamento e seleção talvez sejam os subsistemas de Recursos Humanos que mais se desenvolveram sob o ponto de vista de uso de tecnologia. “Hoje já existem empresas e até aplicativos que buscam fazer o ‘match perfeito’ entre candidato e empresa propondo que o candidato encontre a empresa ideal a partir de seus próprios valores e que a empresa faça exatamente o mesmo”, destaca Flora Alves.
“Nossa própria experiência interna, e com alguns clientes, temos partido para algumas soluções remotas que se tornaram bastante eficientes com bons resultados, tanto de treinamento como para trazer um profissional para conversa, assim como realizar algumas metodologias e técnicas de comunicação com pessoas remotamente”, destaca Wilma Dal Col, diretora do ManpowerGroup, empresa global em soluções em Recursos Humanos.
Para Wilma, é um momento importante de estimular pessoas para que possam utilizar o momento que em home office, e conseguir separar um momento do dia para participar de treinamentos e cursos online. “Podem ser ajustados a um novo modelo. É uma oportunidade de aprendizado para todos nós”.
Um novo momento
Estamos vivendo o ápice dos testes no que se refere à tecnologia e à forma remota com que as pessoas se conectam trazendo a força do virtual. “E isso não traz perdas ao processo. Inclusive estamos com um volume muito grande de vagas principalmente de clientes demandados nessas situações, como saúde e delivery. Temos feito processos de forma totalmente remota, desde o contato inicial com o candidato até o momento de sua aprovação e admissão”, exemplifica a diretora da ManpowerGroup.
Entrevistas para seleção à distância já é uma realidade assim como uso de vídeos e outras funcionalidades que podem encurtar distâncias e economizar tempo.
“O que deve mudar mesmo quanto recrutamento e seleção diz respeito às vagas disponíveis e qualificação dos candidatos. Se antes do cenário devido ao COVID-19 já vivíamos um verdadeiro ‘apagão’ de talentos, agora teremos ainda mais dificuldade para encontrar pessoas que possuam as competências necessárias para a nova realidade”, alerta Flora.
Além da grande probabilidade de redução de postos de trabalho existe também a constatação de que é possível trabalhar de casa e continuar sendo produtivo, o que reduz custos fixos para as organizações e grandes deslocamentos, responsáveis por fazer desperdiçar horas preciosas.
Saiba como se comportar em uma recrutamento online:
- 1- Vista-se adequadamente e da mesma maneira que você faria para uma entrevista presencial. As cores escuras funcionam melhor na câmera do celular ou do computador;
- 2- Crie um local adequado de entrevista sem distrações, com um fundo branco ou neutro;
- 3- Evite a leitura direta de anotações, pois isso pode atrapalhar o fluxo natural da conversa;
- 4- Antecipe problemas técnicos, como uma conexão fraca. Teste o equipamento que for usar para a entrevista;
- 5- Feche ou desligue outros programas no celular ou computador para não causar interferência;
- 6- Tenha um currículo impresso, papel e caneta, visando checar as informações e efetuar anotações, evitando o ruído da digitação;
- 7- Previamente verifique o link ou o aplicativo de mensagens ou videoconferência que será feita a entrevista e teste o funcionamento;
- 8- Seja pontual.
Treinamentos pra que te quero!
Em meio a esta pandemia, mais do que nunca é preciso oferecer capacitação e desenvolvimento às pessoas. “Os treinamentos serão fundamentais tanto para as conhecidas hard skills como também as soft skills. Apesar de estarmos rodeados por dispositivos e termos familiaridade com a tecnologia isso não significa que as pessoas saibam fazer uso de tudo que temos disponível para serem produtivas”, explica Flora Alves.
Para Rosana Daniele Marques, gerente de gestão de pessoas da Crowe, oitava maior rede global nas áreas de gestão, auditoria e consultoria, este é o momento certo para investir em treinamentos online. “É necessário gerar capacitação constante aos profissionais, pois além do conhecimento novo gerado, acontece interações virtuais com colegas de trabalho”.
Por isso, adiar os treinamentos não é a solução neste momento de crise devido ao COVID-19. Além disso é preciso oferecer recursos para que as pessoas aprimorem o seu equilíbrio emocional. Há empresas que oferecem ioga, mindfulness e meditação, presencial e à distância. Os benefícios, especialmente neste momento superam qualquer dificuldade que as empresas possam enfrentar para implementar práticas como essa.
Para a área de treinamento surge uma necessidade ainda maior de cuidar das pessoas e dos negócios que retornarão desta quarentena para um outro mundo. “O desenvolvimento de novas competências sob o ponto de vista da execução do trabalho inclui a gestão do tempo, o uso de tecnologias disponíveis para otimização do trabalho e comunicação”, comenta Flora.
Mas isso não é tudo. É necessário cuidar do desenvolvimento humano de maneira integral, e isso implica no desenvolvimento de competências sócio emocionais – apontadas como essenciais pelo Fórum Econômico Mundial para o futuro do trabalho – além de encontrar meios para que as pessoas se mantenham ativas fisicamente mesmo estando em suas casas.
Otimização dos processos
A tecnologia é uma grande aliada para a otimização dos processos. Pode e deve ser usada a favor das pessoas e organizações.
Mas seu uso deve ser feito de forma consciente, responsável e profissional. O primeiro passo é garantir que as pessoas tenham as condições de conectividade para trabalharem de maneira remota. Isso inclui tanto a infraestrutura como acesso a sistemas que fazem parte de seu trabalho.
“É necessário também garantirmos a segurança da informação e ao mesmo tempo sermos ágeis para colocar tudo para funcionar. A seguir vem a escolha de ferramentas para gestão da rotina”, diz Flora Alves. Aqui, a dica de ouro diz respeito à escolha das ferramentas que melhor atendem as características do negócio e as necessidades da equipe e, neste caso, menos é mais. “Quando mais integradas estiverem essas ferramentas mais produtivo será o trabalho de toda a equipe”.
O terceiro passo é reservar um tempo na agenda para estar com a equipe ainda que neste momento seja necessário de maneira virtual. Nisso, o profissional de rh deve estar atento, checar como estão as emoções das pessoas e esteja disponível para ajudar.
Home office durante o Covid-19
Em qualquer situação de surto, cabe ao rh analisar as melhores estratégias para a empresa e para os negócios, como o home office, assim como estruturar, pensar da melhor forma, em como vai comunicar os colaboradores, analisar as especificações técnicas que são necessárias no caso de um home office, por exemplo, se o colaborador tem internet em casa, se ele precisa ter algum tipo de atendimento telefônico ou equipamentos.
Cabe ao rh pensar nesses detalhes para que o negócio não pare e que as pessoas também continuem trabalhando.
Esta é a grande oportunidade que o rh tem para trazer para as pessoas um grande aprendizado e refletir sobre isso. “Podemos aprender um novo modelo de trabalho que achávamos que sabia. As pessoas tanto falavam em home office e, na verdade, agora que estamos vendo o que isso significa. É uma experiência com a importância de compartilhar as melhores práticas, lições aprendidas durante o processo, fazendo reuniões online diárias”, fala Wilma Dal Col. Para a executiva, esta é a oportunidade do rh de ser um grande incentivador dessa ideia para uma construção e não um isolamento.
Adaptação é a tônica neste momento
Não adianta sair correndo e consumindo qualquer conteúdo só por ele estar disponível digitalmente. É necessário que, em função dos conhecimentos e habilidades a serem desenvolvidos, características do público, realidade em termos de conectividade e dispositivos disponíveis para todos se escolha o melhor meio de entrega.
Atualmente há ferramentas disponíveis para treinamentos à distância síncronos (comunicação de forma direta) que possibilitam intervenções como se todos estivessem reunidos no mesmo ambiente.
Perspectivas futuras do recrutamento e seleção
Para o profissional de rh esta é uma grande oportunidade de trazer para as pessoas da sua empresa a visão que essa talvez seja uma ocasião para um novo aprendizado. O desafio é como tornar efetivas as conexões que hoje são tão famosas por via remota para várias coisas, como redes sociais e eventos online.
Para a executiva Wilma Dal Col, estamos vivendo isso e não é de agora. “A situação desse momento apenas intensificou. Já estávamos tendo muitos processos de recrutamento e seleção e desenvolvimento de pessoas que ocorrem de forma remota por meio da tecnologia, com processos mais ágeis atingindo um maior grupo de pessoas, com conhecimento e sabedoria por meio de desafios. A tecnologia nos ajuda e a tendência é que cada vez mais este futuro esteja mais presente”.
Em termos de tendência, o que muda ou pode se intensificar ainda mais diz respeito à velocidade com a qual o profissional de rh deverá aderir às novas tecnologias. Algumas, já disponíveis, vem se tornando cada vez mais populares e com esse novo momento ganharão destaque, como:
– Plataformas digitais – aplicativos com soluções inovadoras, que facilitam o processo de ação do rh;
– Inteligência artificial – por meio software, visa buscar padrões no comportamento do candidato, faz o cruzamento de dados, facilita análises dos processo de rh,entre outros;
– Realidade aumentada – videoconferências, recrutamento e seleção, experiência de integração mais real e prática, treinamento de colaboradores;
– Gamificação – visa atrair a atenção de candidatos e aumentar o interesse nas vagas de emprego de forma criativa, autônoma e engajada; treinamento criativo de colaboradores;
– Machine learning(aprendizagem de máquina) – plataformas de streaming de vídeo e áudio, tradução de textos automáticos, banco de dados autônomo;
– Ensino à distância (EAD).
O que mudará de fato é o learnability, ou seja, a capacidade de aprender. O mesmo acontece com os processos de recrutamento e seleção para os quais já há aplicativos e empresas que usam tecnologia. “Já o desafio será estarmos abertos a experimentar. Não teremos tempo para resistir uma vez que a mudança não acontecerá de maneira gradativa, e sim, está sendo impulsionada pela contingência que atravessamos”, relata a CLO Flora Alves.
Do mesmo modo, o principal desafio das áreas de rh será o momento pós crise, “para lidar com a situação que nos espera, será necessário muita flexibilidade, tanto dos rh, como das empresas e profissionais. Este é um momento para a aproximar ainda mais das pessoas e dos negócios, criando possibilidades de interação com líderes, apoio aos profissionais e criação de estratégias para sairmos dessa crise com o nosso principal ativo bem, que são as pessoas”, conclui a gerente da Crowe, Rosana Daniele Marques.
Implementando o home training
Nesse momento de pandemia, é essencial o entendimento da importância do distanciamento e resguardo, pela segurança de todos, tanto daqueles que participam dos treinamentos como da própria equipe que aplica o treinamento. A North Brasil, empresa que desenvolve soluções inovadoras em T&D, é um exemplo desse empresa que tomou a segurança de todos como prioridade. “Tivemos, sim, receio de como a questão impactaria a empresa, mas temos consciência da necessidade maior. Foram 17 datas postergadas, até que a situação passe e as empresas se organizem internamente de novo”, explica Silvia Andreo, fundadora da North Brasil.
Segundo Silvia, todos os programas do portfólio da empresa até dia 31 de março eram presenciais. “Há 10 dias, começamos a receber dois tipos de demandas: digital para aplicação imediata, e pré-venda para quando tiver a retomada”.
A empresa percebeu que os desafios neste momento com sua equipe eram ainda maiores. O distanciamento físico tem potencializado a necessidade de desenvolver habilidades específicas tais como a confiança, a comunicação assertiva, escuta ativa, visão sistêmica e principalmente a resiliência. “Por conta disso, hoje colocamos no ar o nosso primeiro programa de desenvolvimento de equipes digital, onde todos jogam juntos, mas cada um em sua casa, em segurança. Se o modelo atual é o ‘home office’, é hora de partir para o ‘home training‘”.
Além disso, a North Brasil está realizando algumas lives no Instagram durante esse período de resguardo. Através delas, a empresa compartilha conteúdo, trocar experiências e informações, conversa e responde perguntas.
Adaptação de ferramentas online para treinamentos
Para Fabio Abate, sócio-diretor e consultor Grupo Netas, empresa de consultoria de treinamento e desenvolvimento, este é um momento muito desafiador, mas extremamente importante. “Estamos vendo tanto as consultorias quanto muitas empresas se prepararem para esta situação e distanciamento, na qual a ferramenta aparentemente mais apropriada são as soluções online”.
Fabio entende que terá uma mudança no desenvolvimento das pessoas, ultrapassando os momentos de treinamentos. “Quando pensamos em desenvolvimento, estamos falando de ferramentas e formatos de reuniões com a equipe, feedbacks, formações formais e treinamentos”.
“Neste momento específico os treinamentos presenciais estão suspensos, claro, é uma medida necessária e, nós entendemos. Então, está sendo um momento para reforçar a parceria com nossos clientes e estabelecer nosso compromisso como parceiro em desenvolvimento, oferecendo o que temos de melhor: nosso conhecimento adaptado às ferramenta online”, reforça Fabio Abate.
O Grupo Netas está investindo em soluções de ferramentas, formatos e plataformas online. “O mais importante que estamos fazendo é acompanhar nossos clientes o mais próximo possível para entender o momento e ajudá-los no melhor caminho a ser seguido. Entendemos que muitos treinamentos poderão ser substituídos por plataformas online, mas alguns temas e competências deverão ser trabalhadas de alguma forma e, no momento adequado, de maneira ainda presencial”, destaca o sócio diretor.
Este fato é tão relevante que foi publicado um artigo de Nikki Garvey da Google, head de anúncios, eventos e experiências do YouTube, onde ela diz “Só porque você pode fazer um evento online, não quer dizer que você deva ”.
“Como especialistas em desenvolvimento, e pelo compromisso que temos com nossos clientes, não podemos esquecer tudo o que sabemos do ser humano. Somos seres sociais, por mais difícil que seja alguma situação, ainda somos uma espécie que vive em sociedade, comunidade. Então, faremos o melhor possível, dentro dos recursos possíveis, até que tenhamos recursos melhores para fazermos melhor ainda”, disse Fabio Abate, parafraseando Mario Sergio Cortella.
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