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Empresas do setor de viagens corporativas discutem o pós-crise

Abracorp debate crise em evento virtual / Foto: Divulgação
Em tempos de pandemia empresas do setor de viagens corporativas se reúnem

O tema do encontro foi “Pós Covid-19 Preparando-se para o Amanhã” . A reunião, que objetivou a discussão do pós-crise, teve a participação de empresas do setor de viagens corporativas, a mobilização das agências TMC´s — Travels Managers Companies associadas Abracorp e convidados. Com audiência máxima, de 100 participantes, Gervasio Tanabe e Carlos Prado, respectivamente presidente executivo e presidente do Conselho de Administração da entidade, conduziram a pauta.

Com a participação de André Sena, da rede Accor; Eduardo Bernardes, da Gol; Igor Miranda, da Latam e Paulo Henrique Pires, da Localiza, com o apoio logístico da plataforma HI CONNECTA da Inteegra & Hoffman, a Associação Brasileira de Agências de Viagens – Abracorp realizou, na manhã do dia 07 de abril, uma videoconferência.

Todos os debatedores foram unânimes em considerar que a pandemia do novo Coronavírus impacta de maneira drástica o setor de viagens e turismo como um todo. Quanto às medidas preparadas para dar início à lenta e gradual retomada da demanda, eles também concordam que o momento exige medidas capazes de repor a confiança dos viajantes.

Mudanças possíveis

Na hotelaria, “já substituímos o sistema de buffet”, informou Senna. Envelopar o volante dos veículos e agilizar o lançamento do “Localiza Fast”, novo sistema que dispensa o cliente de ir até o balcão para retirar o carro, foram as alternativas consideradas por Pires. Bernardo e Igor enfatizaram que, na aviação comercial, os procedimentos de sanitização adotam elevadíssimos padrões. Bernardes ainda lembrou que, a cada três minutos, 99,7% do ar que circula a bordo é totalmente renovado. Ambos concordam que a tendência do modal aéreo é incorporar novas tecnologias e são unânimes ao afirmar que a demanda retornará à normalidade.

Indagados por Tanabe sobre possíveis mudanças na dinâmica de relacionamento com as agências de viagens TMC´s, os quatro debatedores convidados foram concordes de que é preciso evitar guerra de preços. “Esta é a postura da Accor”, cravou Sena, ponderando que a alterativa pode ser “diminuir o ritmo de abertura de novos hotéis; agir de maneira mais cautelosa e, por isso, estar mais próximos de vocês [TMC´s]”.

“Neste momento, tendo a acreditar que não haverá mudanças importantes na relação com as TMCs”, disse Miranda, para quem “é fato que a demanda estará reprimida pós-crise, com a possível retomada para a normalidade no prazo de um a dois anos”. Assim como fez Miranda, mas sem projetar prazos, Bernardes aposta que a recuperação terá início com a retomada da demanda por voos domésticos, inclusive porque países que fecharam as suas fronteiras dificultam a operação dos voos internacionais.

“Nós estamos tentando ver a crise como oportunidade”, afirmou Miranda, após compartilhar que “a Latam tem, atualmente, se dedicado a estudar o impacto de todas as crises anteriores”, levando em conta que a companhia investiu um bilhão de dólares no ano passado; viveu um ano de recuperação, em 2019; adquiriu novos equipamentos; e havia iniciado um excelente 2020.

Para Bernardes, o que vai mudar é a relação das TMC´s com os clientes. “Para qualquer indústria no mundo, as TMCs são importantes e isso não vai deixar de existir. Mas com a cobrança de fees [praticados até então pelas TMC´s], elas não vão continuar, considerando o reduzido valor cobrado dos clientes”, explicou. “Caso as cias aéreas resolvam retomar a mesma oferta de voos, também não conseguirão sobreviver”, comparou.

Retomada tipo Nike

“A tendência é a retomada ser do tipo Nike; uma curva lenta em ascensão”, descreveu Pires – para quem “essa questão do fee da TMC” não atinge a locação. “Nosso produto é acessório”, disse e acrescentou: “as locadoras podem ter um ganho com a tendência de substituição do carro próprio pela locação; caso isso de fato se confirme após esse período”, ponderou.

“A sustentabilidade é uma preocupação da Abracorp”, disse Prado, lembrando que vários gestores acompanhavam o debate. Após a crise, “a precificação será diferente. Vai mudar. Precisa mudar”, insistiu. “Se hoje as empresas estão robustas, amanhã sairão feridas. Não adianta vender por preços insustentáveis”, argumentou.

Faturamento hoteleiro

Os dados do BI Abracorp revelam que a hotelaria mantém cerca de 65% da receita advinda de faturamento. Tendo em vista que será necessário reduzir custos cada vez mais, o presidente executivo da Abracorp indagou: “Podemos supor que a indústria da hotelaria entrará mais forte na adoção de meios eletrônicos de pagamento? O que pensa a Accor a respeito?”

“Isso passa por uma mudança cultural, de processo e de tecnologia. Estamos investindo para padronizar a dinâmica dentro de todos os nossos hotéis. É difícil, mas nós estamos repensando modelos, como o pré-pagamento, para trazer mais eficiência para a cadeia como um todo”, respondeu Sena.

Rodoviário em alta

Para os outros três debatedores, Tanabe perguntou se o modal rodoviário poderá ter crescimento mais rápido, neste momento em que a retomada da oferta aérea é mais lenta. “A locação de carro passou a ser uma alternativa diante de aeroportos fechados. Esta é uma oportunidade. Com relação aos ônibus, não sei dizer, mas a carência da oferta rodoviária dificulta substituir o modal aéreo. Em trajetos curtos, as pessoas estão optando pela locação de carro”, respondeu Pires em nome da Localiza.

“No curtíssimo prazo, o modal rodoviário tende a ser beneficiado, mas a médio e longo prazo a tendência é que o modal aéreo retome os patamares”, afirmou Miranda em nome da Latam. “Vejo como complemento os dois modais. Por restrições de recursos, parcela da população pode recorrer aos ônibus, mas no médio prazo os voos interestaduais, que já eram mais atrativos, devem retomar a competitividade de antes”, avaliou Bernardes, em nome da Gol. “O rodoviário deve cobrir algumas rotas que perderam voos com a redução da malha aérea”, acrescentou Prado.

Mobilidade X Conectividade

Em seguida, Prado apresentou outra questão aos convidados: “A videoconferência tende a competir com a mobilidade das pessoas, após o uso intensificado da tecnologia neste período?”.

Para Miranda, no pós-crise, a busca por eficiência estimulará todas as empresas a otimizarem viagens com o uso de tecnologia da videoconferência. “Eu prefiro as reuniões presenciais”, afirmou. Ele também lembrou que a Latam foi a compnhia que mais repatriou brasileiros do exterior: “Foram mais de 13 mil passageiros e ainda estamos empenhados neste sentido”.

Para Bernardes, essas ferramentas já existiam e vieram muito à tona nesses dias de quarentena. “O que aconteceu foi uma forçada de barra para todos experimentarmos essa tecnologia – o que pode gerar a percepção de valor [das videoconferências] neste momento; por conta da crise. O que faz a economia crescer são as viagens. As empresas sairão economicamente com problemas, mas acredito que em médio prazo as viagens serão retomadas”.

Para Pires, “num primeiro momento, todos estarão saturados de conference call e vão querer viajar”.

Relações com o governo

Otimizar o processo da retenção de impostos sobre as viagens realizadas pelo governo, conforme estabelece a Lei Kandir, é uma medida que pode “contar com apoio das Gol e Latam?”, indagou Tanabe em nome das associadas Abracorp.  

“Não tenho registro de criticidade sobre esse tema, mas estamos dispostos a receber documento da Abracorp e somar forças”, foi a resposta de Bernardes. “Também estou aberto a fazer um call posterior. Estamos, sim, dispostos a analisar como aproveitar o momento para atender o pleito”, respondeu Miranda.

Prado conclui reiterando aos debatedores que eles podem contar com a Abracorp “para mirar a sustentabilidade. Neste momento, o inimigo é um só”, referindo-se ao Covid-19 e disse: “Nós precisamos estar unidos e com foco na solução de problemas que são comuns”. Antes de finalizar, Prado destacou: “A mídia evoluiu muito e sabe que o Turismo foi o mais afetado. Abracorp está junto e vamos fazer um Brasil melhor depois que esse período de crise passar. E vai passar”.

Tanabe emendou: “A Abracorp também conta muito com vocês”, reiterando que quando qualquer dos segmentos [aéreo, hoteleiro e locação] identificarem a pautarem demandas governamentais como essa [Lei Kandir], “nosso pleito é que incluam a Abracorp no debate”.

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