Você sabe o que é 3D Mapping? Milhões de pessoas no mundo todo viram a chamada projeção mapeada na abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Afinal, o Brasil deu um show de tecnologia com imagens e vídeos projetados no gramado do estádio do Maracanã. No começo do ano, uma ação da Disney para promover o filme ‘Procurando Dory’ transformou o shopping JK Iguatemi, em São Paulo, em um grande aquário. Imagens dos personagens passaram em um dia inteiro no local simulando o fundo do mar.
O Brasil é um produtor de cases importantes de 3D Mapping. Em 2010, uma ação de marketing chamou atenção nacionalmente, já que um dos nossos monumentos mais famosos, a estátua do Cristo Redentor, foi usada em uma campanha contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Na ocasião a Visualfarm criou um jogo de iluminação e projetores. Os equipamentos sincronizados davam a impressão visual de que a estátua estava realizando o gesto da campanha, o abraço.
Diretor de tecnologia da Hoffmann, referência no segmento audioviusual, Felipe Bruno, iniciou as projeções em 2005 na Globo. O canal de TV até hoje é um dos clientes, nos estúdios a empresa é responsavel por toda a cenografia eletrônica. “Com a ajuda da projeção o objetivo é levar ao visitante algo diferente, a gente tem no dia a dia celulares com boa resolução e não basta mais no evento ter uma tela passando conteúdo”.
Entre os eventos importantes realizados pela Hoffmann está a projeção mapeada no lançamento do Americas Medical City Rio, centro médico da Amil. A festa foi realizada na zona portuária, Armazém 2, no Porto Maravilha. A preparação incluiu um estudo detalhado da fachada e o escaneamento das superfícies. Foi feito um show de grafismos com muitas imagens passando, uma intervenção de mapeamento que chamou a atenção do público.
A agência EY, que realiza a premiação ‘empreendedor do ano’ é uma das clientes da Hoffmann, que é responsável pela projeção mapeada do evento. O case de 2016 foi bastante interessante e a comemoração aconteceu no palacete da Ilha Fiscal. O desafio foi grande já que o espaço era muito grande e o prédio era próximo da água, o que dificultava o mapeamento. “A ideia era transformar aquele palácio que já é muito bonito e iluminá-lo de uma forma mágica e colorida com as cores do cliente. Sabíamos que o show de projeção ia ser feito à noite, então aproveitamos a escuridão para brincar com sombras e reflexos”.
Projeção no mundo
A projeção mapeada é uma aposta forte das empresas nas campanhas de marketing internacionais, principalmente, quando querem atingir um público grande. Uma ação interessante foi feita pela Nintendo, na Europa, durante o lançamento do game ‘Super Mario Galaxy 2’. A Usina Termelétrica de Battersea, que fica às margens do Tâmisa, em Londres, foi palco de projeções. As duas chaminés e as paredes da construção desativada foram usadas em uma apresentação que transformou tudo em uma verdadeira tela interativa gigante em que o jogo foi jogado, em tempo real, dando aos fãs uma prévia do que estava chegando.
A gigante dos automóveis de luxo BMW divertiu as pessoas de Cingapura, na Ásia, quando usou paredes de prédios comerciais para projetar um outdoor interativo. O vídeo mapeamento batizado de BMW Joy 3D conquistou a atenção dos pedestres e foi compartilhado milhares de vez nas redes sociais.
O que é o 3D Mapping?
É uma técnica que consiste na projeção de vídeo em diversas superfícies como fachadas de prédios, telhados, estátuas, por exemplo. O que acontece é que os vídeos interagem com as irregularidades da construção e criam uma experiência única de mídia, a projeção, inclusive, pode ser feita em 360°. Antes de entrar de vez no mercado de eventos o Vídeo Mapping ganhou força nas campanhas publicitárias e também nos vídeos clipes de música eletrônica. As imagens muitas vezes são combinadas com áudio para criar uma espécie de narrativa audiovisual. Vários museus espalhados pelo mundo utilizam a técnica em instalações artísticas modernas.
Como funciona o 3D Mapping
O objeto é mapeado através de equipamentos de última geração e com a ajuda de softwares específicos. O programa interage com um projetor de modo a ajustar qualquer imagem para a superfície do objeto. CEO da Class Produções, produtora de vídeos, Gabriel Branco criou uma divisão dentro da empresa, em 2013, chamada ‘Live Map’ para trabalhar apenas com projeção mapeada. “Cada projeto precisa ser bem personalizado para não ficar fora de budget. Os softwares também variam dependendo da utilização. Alguns são para mapeamento mesmo, outros servem como gerenciadores de conteúdo e tem os mais simples que são utilizados por VJs somente para apresentações artísticas”.
Branco também falou sobre o tipo de equipamento que utiliza há muitos anos nos trabalhos de projeção. “Nós utilizamos projetores desde de 3.000 ansi lumens até 20.000 (laser) ansi lumens que são os mesmos que foram utilizados na abertura das Olimpíadas”.
Outro grande nome da projeção mapeada no Brasil é o VJ e proprietário da Visualfarm, Alexis Anastasiou. A empresa dele promove a interface entre arte e tecnologia através de soluções customizadas para eventos e espetáculos públicos. Recente Anastasiou publicou um livro para compartilhar sua paixão e conhecimentos sobre projeção. “Acredito que com os novos projetores a laser o mapping passará a ser muito mais usado de maneira permanente nas cidades, deixará de ser somente uma instalação que dura um dia ou uma semana. O livro conta a história desse desenvolvimento do mapping no Brasil, das pistas até os grandes projetos”.
A tecnologia utilizada para fazer as projeções é parte importante do projeto. Anastasiou confidenciou que a Visualfarm possui um galpão inteiro de equipamentos que podem ser usados, tudo depende do tipo de instalação escolhida. “Trabalhamos com um sistema de servidor de vídeos, o Pandora Server, um dos mais versáteis e seguros, e principalmente com projetores de 20 a 35 mil ansi lumens para projeções em fachadas”.
Invadindo o mercado de eventos
Muito antes das Olimpíadas o 3D Mapping já estava presente nos eventos de pequeno e grande porte. Entretanto é inegável que agora a tecnologia ganhou maiores proporções chamando atenção de empresas que antes não investiam nela. Para Branco o primeiro objetivo de quem contrata a projeção para um evento é causar impacto. “O conteúdo desenvolvido deve ter muita criatividade, movimento e ilusão de ótica. O público em geral quer ser surpreendido e vivenciar uma experiência diferenciada. É esse resultado que buscamos sempre em nossos trabalhos. Trabalhamos com projeções imersivas onde as telas são muito grandes e o público fica imerso nessas telas”.
De acordo com Anastasiou vamos cada vez mais observar um processo de ‘virtualização’ dos eventos. “O evento é atualmente um trampolim para ações de mídias sociais e a projeção de imagens possibilita que elas também interferiram no evento. Estamos desenvolvendo um software chamado Dialog que conecta esses mundos e possibilita que os posts sejam publicados em tempo real nos eventos e mappings em espaço público. Acredito que esse é um caminho que pode ser melhor explorado.”
Quanto custa?
Para conseguir os melhores resultados é preciso procurar empresas que realmente entendam e tenham tradição no mercado. Claro que um projeto envolvendo tecnologia não é tão simples de ser executado, pois há todo uma infraestrutura nos bastidores. Para Branco o valor vai depender do tamanho do mapping, a luminosidade do local e a complexidade do conteúdo. “Os equipamentos utilizados são computadores de alta performance como hardware e também para renderização de conteúdos, softwares licenciados, projetores, cabos de fibra óptica. Além de mão de obra especializada para projeto, criação e produção do evento e do que haverá nele”.
“Atualmente, nós procuramos sempre realizar propostas já tendo uma ideia de ordem de valor vindo do cliente. Desta forma, sempre é possível propor algo para um evento. Sabemos que o nosso maior desafio é vencermos a imagem que existe no mercado de que somos uma empresa somente para grandes projetos. Assim sempre tem uma carta na manga que podemos apresentar mesmo para um cliente que tem um orçamento baixo”, esclarece Anastasiou da Visualfarm.
Até no bolo de casamento
A indústria de casamentos fatura cifras altas no Brasil e uma pesquisa recente feita pelo Instituto Data Popular e a Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta) mostrou que o mercado de festas e cerimônias cresceu exponencialmente nos últimos anos, atingido R$ 16,8 bilhões apenas em 2014. Ainda de acordo com o levantamento, os gastos com a festa de casamento apresentam um crescimento anual médio de 10,4%.
É um setor que não se abalou com a crise e investe em inovação para continuar a gerar lucros. As novidades tecnológicas costumam atrair noivas e noivos em busca de um diferencial para o grande dia. A projeção mapeada está sendo usada em cerimônias de uma maneira no mínimo inusitada. São projetadas imagens no bolo, o que transforma a peça em um tipo de escultura animada surpreendendo os convidados.
Além do bolo é possível fazer projeção mapeada no cenário do casamento, na fachada da igreja ou buffet. Para ficar personalizado as imagens podem contar a história do casal com fotos e vídeos dos dois. É possível também projetar no interior dos espaços de festas ajudando a compor o cenário e a decoração escolhida pelos noivos.