Revista EBS

Os desafios de impactar o público de forma remota

Foto: Freepik

Publicado em 13/08/2020

Como resposta ao cancelamento e adiamento de feiras e eventos presenciais, causado pela pandemia de covid-19, o segmento reagiu migrando seu portfólio para as plataformas digitais.

Segundo o portal Feiras do Brasil, foram realizados no segundo trimestre deste ano, cerca de 234 eventos online. Até o momento, dos 1956 eventos catalogados, 518 são online (cerca de 25% do total). A previsão é de que até o fim do ano, sejam realizados aproximadamente 200 eventos neste formato, abrangendo os mais diversos segmentos.

Seminários, cursos, workshops, palestras, conferências e até shows, todos esses modelos de evento, ganharam seu espaço virtualmente. E, no meio dessa transformação toda, os empresários do setor, encontraram nas diversas plataformas digitais disponíveis para a realização de eventos, uma oportunidade de se reinventar.

O sucesso de um evento é medido, entre outros fatores, por sua capacidade de engajar o público, desenvolver equipes, atrair novos negócios e, principalmente gerar resultados para clientes e fornecedores. Promover congressos, feiras, encontros e debates relevantes e comentados, sem dúvida, faz parte dos objetivos dos organizadores de eventos. Mas, diante desse novo cenário, surge também um novo desafio: como fazer a migração de um ambiente físico para o virtual e continuar impactando o público?

Orlando Sgarbi Neto
Foto: Assessoria

Para Orlando Sgarbi Neto, diretor comercial da GoLive e AREA451, para atrair e entreter o público de forma remota,ineditismo, interação, conteúdo e experiência, são fatores que formam uma fórmula de sucesso.

“Durante esse nosso período de funcionamento e dezenas de eventos online realizados, foram esses os ingredientes que nos permitiram atingir números bem expressivos: 5 mil, 50 mil e a live mais recente, com mais de 5 milhões de acessos, se tornando a maior live de investimentos do mundo”, destaca.  

Já para Allan Szacher e Simon Szacher, sócios da ZUPI.LIVE, empresa especializada na produção de eventos e produtora do maior festival de criatividade da América Latina, o PIXEL SHOW, não há uma “fórmula mágica”.

Allan Szacher e Simon Szacher
Foto: Assessoria

“Se manter fiel ao seu propósito e seguir levando o conteúdo único e inspiracional, como fazemos com o PIXEL SHOW para que, desta forma, o público se mantenha fiel ao seu projeto e embarque neste novo formato para uma experiência inédita. A comunicação às claras, sem falsas promessas, explicando tal e qual será o formato online e o que será ou não mantido do que vinha sendo feito, além de explicar também como será esta vivência, é essencial ao pleno entendimento do público”, ressaltam.

Conteúdo de qualidade é fundamental em evento online

Na opinião de Orlando, mais do que nunca, o conteúdo ganhou uma relevância bem expressiva nos eventos online. Ele cita alguns itens que considera fundamentais para impactar o público num evento virtual: “o primeiro ponto seria caprichar no conteúdo. Só desta forma é possível reter a atenção do público. O segundo seria a emoção. A transmissão tem que transparecer a experiência de como se a pessoa estivesse presente no local. É preciso investir para proporcionar uma boa internet, já que esta é o coração do evento online”, afirma. 

“Quando criamos a GoLive Experience juntamos o nosso know how de mais de 30 anos no setor de eventos e mesclamos com o que a tecnologia atual nos permitia. Com isso, criamos uma linguagem única que pautou como o mercado enxerga atualmente os eventos online, ou seja, um mix da linguagem da TV com o dinamismo e velocidade dos youtubers. Vimos um pouco de tudo nos nossos quatro meses de operação. Aliás, quatro meses que parecem ter sido quatro anos, pois muita coisa aconteceu e aprendemos muito nesse período”, complementa.

Orlando  Sgarbi destaca ainda que ter um espaço seguro, confortável e que possibilite trabalhar com profissionalismo é primordial para a boa execução de um evento online.

“Foi buscando esse nível de qualidade que nós instalamos estúdios blimpados, para que o ambiente esteja isolado na acústica e, também, no controle de temperatura. Imagine você realizando sua live e o vizinho coloca uma música de gosto duvidoso numa altura absurda. Adianta interromper a live para pedir para baixar o som? Ou então, a musiquinha do caminhão de gás ou, até mesmo o barulho do ar-condicionado. Todo e qualquer som é muito sensível para os microfones dentro de um estúdio. Devido ao coronavírus e, também, para manter o silêncio dentro do ambiente, tivemos que implementar as nossas house mix em locais separados, o que acarretou a necessidade de dois diretores artísticos, um no estúdio e outro na house. A nossa equipe descobriu, ao longo deste tempo, vários macetes, diferentes do que estávamos acostumados a fazer”,  diz Orlando.

Allan e Simon encararam o desafio de adaptar um festival de cultura e arte à uma tela de computador.Na opinião deles, o público está ávido por conteúdo relevante. “Isso é real e tão existente durante a pandemia, como em qualquer momento antes dela. A diferença é o quão disposto o público está em participar de um evento, no nosso caso, um festival com múltiplas atividades, experiências e diferentes conteúdos criativos, sejam palestras da conferência, meetups, exposições, live-art, música, etc. É muito difícil chegar na energia de um evento presencial, pelo próprio “calor humano”, mas certamente é possível apresentar e entregar um conteúdo ímpar, especial, inédito para a sua audiência”, enfatizam.

Eles contam que até o mês de abril, estavam esperançosos de que a pandemia tomaria um rumo diferente do que temos acompanhado no País. Porém, diante do cenário apresentado, decidiram em maio, realizar o Pixel Show 2020 online e desde abril estão produzindo e divulgando conteúdos gratuitamente no canal do festival no Youtube. Segundo eles, a iniciativa é um “esquenta” para a semana do festival que vai ocorrer entre os dias 12 e 18 de outubro.

“Após esta definição, passamos a analisar e investigar opções de plataformas que atendessem tanto ao nosso festival como ao nosso público e parceiros da melhor forma possível. Após analisarmos aproximadamente 50 possibilidades, definimos a parceria e passamos a entender como realizar tudo que sempre existiu no festival de uma forma 100% online. A vantagem é que o nosso público já está acostumado a consumir conteúdo de forma online e através do computador, tablet ou celular. O maior desafio está sendo em mostrar a todos como será feito e que receberão tudo o que tinham nos últimos 15 anos, somado a novidades que estamos trazendo, além de facilidades que o online trouxe este ano, como por exemplo o público que tem ingresso para acessar a conferência, poder ter acesso ao conteúdo por alguns dias após a semana do festival. Estamos, inclusive, estudando como realizar a feira de recrutamento de forma online. Nas últimas edições ela foi um sucesso dentro da feira do festival”, afirmam.

Foto: Próximas tendências para os eventos virtuais

Se por um lado os eventos virtuais e híbridos pareciam uma tendência futura, por outro, a necessidade de distanciamento social, veio para transformar de vez, a forma de fazer congressos, feiras, shows, treinamentos e exposições. De acordo com a ABEOC (Associação Brasileira de Empresas de Eventos), investir em tecnologia e promover a inovação fará parte das estratégias previstas para 2020.

Orlando lembra que há 10 anos, tudo isso que estamos sendo feito hoje iria parecer algum filme de ficção científica. “A tecnologia possibilita colocarmos em um mesmo ambiente virtual, pessoas em diferentes partes do mundo conversando em tempo real. Além de transmitir tudo o que estamos fazendo ao vivo, conseguimos também colocar elementos como realidade aumentada, permitindo assim, fazer esse mix do real com o virtual. Acredito que seja um momento muito rico em termos de inovações e novas oportunidades que estão por vir”, observa.

Ele conta que se surpreendeu com a quantidade de pessoas que atingiram nos eventos online. “Antes, dizíamos que um evento com 800 pax era um grande acontecimento, mas agora com as lives atingimos números bem mais expressivos: de 5 mil a 5 milhões de acessos, ou seja, será que esses clientes vão querer investir uma alta quantia para impactar apenas 800 pessoas?”, questiona.

Para Allan e Simon, não restam dúvidas de que eventos realizados de forma online vieram para ficar, e, ao mesmo tempo há a certeza de que quando houver vacinação em massa globalmente, um grande número de eventos presenciais se transformarão em híbridos ou mesmo 100% online, com exceções de alguns eventos que precisam da interação do público para fazer sentido.

“Certamente eventos virtuais com a presença de XR (realidades diversas) e hologramas crescerá bastante nos próximos anos. Agora, pensando em eventos similares ao PIXEL SHOW, é muito complicado ele se tornar 100% online, pois perde-se um fator chave no sucesso de público e crítica: o calor humano e a interação humana de forma presencial. A energia positiva que se gera nos eventos, ainda não é possível replicar através de tecnologia”, opinam.

Na opinião de Orlando, ainda existem várias ferramentas para serem melhor exploradas e outras nem foram inseridas ainda. “Conforme as agências e clientes forem se familiarizando com este formato, veremos muita coisa nova pintando por aí. Realidade aumentada, realidade mista (aumentada e virtual), mistura de tecnologias, enfim, a caixa de ferramentas é bem ampla e vamos implementando conforme a maturidade do setor. Costumo brincar com os nossos clientes que aquilo que eles estão vendo não é um estúdio apenas, mas um grande laboratório. Então temos muitas novidades pela frente, porém temos que ir revelando de acordo com crescimento do setor”, finaliza.