Publicado em 15/06/2020
A transformação digital que parecia uma realidade distante para muitas empresas brasileiras, está acontecendo agora, no meio de uma pandemia. A necessidade de manter as organizações funcionando e, ao mesmo tempo, manter o distanciamento social, levou pequenas e médias empresas a adiantar o processo de adoção de novas soluções tecnológicas.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê contração de ao menos 6% da economia global e de 7,4% no Brasil, em 2020.
Segundo a edição mais recente do Economic Outlook da OCDE, a economia global sofrerá a maior retração em tempos de paz em um século, antes de ressurgir no próximo ano.
A organização avalia que a economia global vai encolher este ano e irá se recuperar com um crescimento de 5,2% em 2021, desde que o surto de coronavírus seja mantido sob controle.
A OCDE afirma que um cenário igualmente possível de uma segunda onda de contágio este ano pode levar a uma contração econômica global de 7,6%, antes de crescer apenas 2,8%.
“Até o fim de 2021, a perda de renda excede a de qualquer recessão anterior nos últimos 100 anos fora de tempos de guerra, com consequências sombrias e duradouras para as pessoas, empresas e governos”, analisa a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone.
As empresas do setor de eventos foram amplamente atingidas pela pandemia e se viram diante de um desafio enorme para driblar os efeitos da crise. Em meio a este cenário, a adoção de soluções tecnológicas já disponíveis como Inteligência artificial, Internet das Coisas, Big Data, Computação em Nuvem e Robótica, que antes parecia uma realidade distante, deverá ser crucial para a recuperação econômica das empresas do setor de eventos. Em alguns setores, essa mudança está ocorrendo de forma mais ágil e em outros um pouco mais lenta. Equilibrar todos os segmentos é um grande desafio para acelerar essa transformação.
Neste cenário de incertezas, a Indústria 4.0 avança cada vez mais no Brasil e no mundo -muito embora ocorra de forma morosa no País – com uma maior integração de tecnologias já conhecidas, com consequências que devem afetar todos os segmentos econômicos. Consequentemente, as empresas que ficarem somente observando os efeitos dessas mudanças, certamente ficarão obsoletas em um curto espaço de tempo.
Segundo levantamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a estimativa anual de redução de custos industriais no Brasil, a partir da migração da indústria para o conceito 4.0, será de, no mínimo, R$ 73 bilhões/ano.
Por isso, a tecnologia será uma das ferramentas essenciais nessa jornada de recuperação econômica, cujo potencial de transformação nas empresas é imenso, dispondo de soluções disruptivas que tragam eficiência, alavanquem o negócio e melhorem a experiência do cliente.
A expressão “Indústria 4.0” foi utilizada pela primeira vez na Alemanha, em 2011, durante a Hannover Fair – evento anual realizado na cidade de Hannover, com foco em inovações e novas tecnologias industriais. Sua autoria é atribuída a um grupo de pesquisadores alemães, que apresentava no evento um projeto de desenvolvimento de fábricas inteligentes.
A Indústria 4.0, também chamada de quarta revolução industrial, é a integração do físico com o virtual. Dessa forma, inovações tecnológicas são utilizadas para criar uma rede inteligente por toda a cadeia produtiva de um determinado setor. Ela congrega máquinas inteligentes, análise computacional avançada e trabalho colaborativo entre pessoas conectadas, proporcionando eficiência operacional ao longo de toda a cadeia de produção e logística. Inteligência Artificial, Big Data, Internet das Coisas, Machine Learning e Cloud Computing, são alguns exemplos de tecnologias que juntas são a base da indústria 4.0.
Juan Pablo de Vera, CEO da R1 Soluções Audiovisuais, afirma que são inegáveis as inovações e soluções que a indústria 4.0 está oferecendo para os diversos setores da economia, dentre eles o setor de eventos.
“Com a possibilidade de uma “interconectividade” mais ampla e com custos mais acessíveis, e soluções que nos permitam uma automação de processos de maneira mais efetiva, podemos conseguir entregar eventos mais eficientes em custos de produção, implementar técnicas eficientes de “predictibilidade” de vendas, e conseguir ter mais assertividade na entrega de soluções, alinhadas com as necessidades atuais dos nossos clientes. Esse processo que foi artesanal e depois empírico, hoje pode ganhar ainda mais relevância ao momento de entregar valor na indústria de eventos”, opina.
Para Alexandre Pierro, sócio-fundador da consultoria de inovação e gestão PALAS, todas essas tecnologias podem ser utilizadas por qualquer tipo de empresa para ajudar a estruturar a tomada de decisões.
“A indústria 4.0 pode ajudar as empresas do setor de eventos a se reinventarem. Mesmo após o fim da quarentena, teremos novos padrões de comportamento e orientações quanto à prevenção. Por um bom tempo, ainda não teremos megaeventos, com aglomeração de pessoas. E, é aí que pode estar uma grande oportunidade para a incorporação de tecnologias da indústria 4.0. Um exemplo é a realidade virtual e mista. Ambas podem ser utilizadas para criar novas experiências para o usuário, de forma a conectar várias pessoas de diversos lugares para dividir uma experiência simultaneamente”, analisa.
Ele aposta também em eventos mais intimistas e de nicho. “Com Big Data, é possível conhecer gostos bem específicos das pessoas. Usar esse conhecimento para oferecer eventos altamente customizados e para poucos convidados, pode ser uma estratégia interessante. As pessoas querem se sentir exclusivas e pertencentes a pequenos clusters”, comenta.
Empresas do setor de eventos precisam se preparar para a Indústria 4.0
Alguns estudos apontam que até 2025, 40% dos empreendimentos tradicionais podem deixar de existir por causa da incapacidade de se alinhar à era digital, independentemente do seu modelo de negócio ou tamanho.
Portanto, compreender as principais tecnologias e características da Indústria 4.0 e acompanhar as tendências do setor no Brasil e no mundo, é essencial para a sobrevivência das empresas.
“Antes de tudo, a empresa tem que fazer uma autoavaliação e ver quais tecnologias fazem sentido para o seu negócio e, principalmente, o que se deseja alcançar com a utilização delas. Para isso, é necessário ter uma gestão focada nesse tema, pois ela que irá determinar o que é relevante ou não para a empresa. Depois de definir onde a empresa quer chegar, deve-se estabelecer as prioridades e iniciar um projeto de implementação dessas tecnologias. Essa implementação pode ser feita com o auxílio de terceiros. Os responsáveis deverão fazer uma hierarquização das prioridades. Por exemplo, se a empresa precisa focar na análise de dados e na otimização de processos, o foco será em algumas tecnologias. Porém, se o objetivo for em criar novas experiências e produtos, o foco deverá ser em outra, como realidade virtual e mista”, afirma Alexandre.
Juan Pablo acredita que a indústria de eventos demorou para aderir à novas soluções tecnológicas. Segundo ele, esse erro não pode ser cometido novamente, e o setor precisa se adaptar rapidamente a indústria 4.0.
“Primeiro devemos nos conscientizar da necessidade de uma “recalibragem” de nossa proposta como ferramentas de marketing e vendas para nossos clientes. E, assim conseguiremos preparar nossas equipes e nós mesmos para desaprender. Não podemos demorar em abraçar estas ferramentas e incorporá-las em nosso dia a dia. Mas para isso precisamos abrir genuinamente nossas mentes para entender que estas soluções podem chegar a desconstruir nossos modelos tradicionais e nos levar a novos horizontes. Em geral, a indústria de eventos demorou muito em enxergar os benefícios da internet, as demandas da sustentabilidade, e os desafios da digitalização. Não devemos cometer o mesmo erro desta vez”, compartilha.
A Indústria 4.0 vai impactar a forma de fazer eventos
Companhias aéreas, hotéis, operadoras, empresas de tecnologia, dentre outras, já utilizam essas novas tecnologias para agilizar processos, otimizar recursos e oferecer as melhores experiências aos seus clientes. A viabilização dessas soluções deve ser adotada de vez por outros setores da economia, incluindo o de eventos.
Para Juan Pablo com a nova geração de profissionais e a entrada de novas feiras e eventos no mercado, será possível para o setor aproveitar muito bem o momento, aprender rápido sobre os processos que continuam sendo bem sucedidos e agregar uma bagagem de novos conhecimentos e experiências. “Compreendo que se trata de um processo de evolução e renovação natural da indústria de eventos. Tudo isso é muito positivo para o setor. Entendo que uma das melhorais mais transcendental, será a possibilidade de melhorar a experiência dos usuários dos eventos. Um conhecimento mais profundo das necessidades de cada “perfil-pessoa” em nossa comunidade de eventos, nos permitirá ter conteúdos mais relevantes e atividades com maior engajamento. Da mesma maneira, as ferramentas de gestão de vendas “predictivas” podem nos ajudar a gerir de maneira mais assertiva nossas ações de marketing e vendas”, avalia.
Alexandre acredita que algumas das tecnologias como a realidade mista ou virtual, poderão mudar para sempre a forma de participar e interagir em eventos. “Imagine um evento sobre turismo, onde eu possa conhecer o local para onde vou viajar, em outras épocas, como na era medieval, atual ou mesmo no futuro. Isso é possível com tecnologias da indústria 4.0, e, muda toda a experiência do usuário e a forma de fazer negócios, além de gerar uma infinidade de oportunidades que não poderiam ocorrer sem a adoção dessas tecnologias”, aposta.
Segundo Alexandre, a Inteligência Artificial e o Blockchain tendem a ter custos cada vez menores e isso ampliará sua adoção por empresas de pequeno e médio porte, o que mudará completamente a maneira de fazer negócios.
“A tecnologia Blockchain é considerada por muitos como a nova internet, com uma diferença: em vez de ser uma rede de compartilhamento de fotos, vídeos e notícias, ela se propõe a compartilhar valor. Desta forma, qualquer tipo de valor, como contratos, dinheiro, acordos extrajudiciais, patentes, registro de marca, ou seja, qualquer coisa que possua um valor intrínseco, pode ser compartilhado por essa rede, sem a necessidade de um intermediário para validar a transação. Isso irá mudar totalmente a forma de fazermos negócios”, analisa.
Para Juan Pablo, a IA aumenta exponencialmente a capacidade de administrar e entender os milhares de dados e informações que circulam diariamente. “Isso sem dúvidas, pode nos ajudar a administrar melhor nossos recursos e corrigir nossas ações para oferecer soluções mais alinhadas às demandas e necessidades da nossa base de clientes. Da mesma maneira, pode nos auxiliar a entender como está evoluindo esse mercado, quais são as novas tendências, onde podem estar os novos expositores e compradores. Temos que incorporar talentos com capacidade de nos ajudar a tirar o maior proveito possível destas novas ferramentas. Mas nada será de ajuda, se continuamos a desenhar o futuro de nossos eventos somente olhando para o sucesso de nosso passado recente. Devemos ter coragem para abandonar hábitos desatualizados e nos reinventar como profissionais, como empresas, como setor”, afirma.
O uso da IA pelo setor de eventos pode ajudar na análise de dados, e como resultado, ajudar as empresas a entregar soluções que proporcionem uma experiência única para cada participante.
“A principal vantagem da adoção da Inteligência Artificial é a análise de grandes quantidades de dados de forma rápida e assertiva. Com a adoção dessa tecnologia, podemos analisar vários inputs obtidos durante um evento e, assim, customizar a experiência de cada usuário com base na aquisição de informações prévias, como, por exemplo, cruzar informações das redes sociais do participante versus o comportamento dele ao longo do evento. Tudo isso pode ser analisado pela Inteligência Artificial e utilizado para dar uma experiência extremamente personalizada e customizada. Imagine realizarmos um evento e, por meio de IA, podermos analisar a expressão corporal dos visitantes nos estandes e, a partir dessa leitura, ser possível identificar quais estandes mais chamaram a atenção do público. Com isso, ao final do evento, poderíamos criar um brinde personalizado para o participante com base nessas informações. Dessa forma, criamos experiências únicas para o usuário e marcas cada vez mais desejáveis. Isso é apenas uma das possibilidades da utilização dessa tecnologia”, enfatiza Alexandre.
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