Para que acompanha de perto a movimentação de Adriana e de sua equipe, provavelmente, a edição de 2017 tenha sido a mais trabalhosa de tantas quantas já aconteceram até agora. Tradicionalmente, as edições anteriores se realizam num único dia, reunindo todas as atividades – das comerciais às culturais – num mesmo endereço, No entanto, em busca da inovação e da renovação da marca, a palavra de ordem neste ano foi a descentralização, com uma programação que se desenrolará ao longo de novembro, o mês da Consciência Negra.
Durante três semanas, a capital paulista será ocupada por feiras de livros e literatura, shows de Black Rocks, workshops de formação profissional, exposição sobre a inventividade negra, apresentação do Balé da Cidade, no Theatro Municipal, dirigido pelo bailarino negro Ismael Ivo.
Além, naturalmente, da feira de empreendedores, que contará com 90 expositores e acontecerá no dia 18, na Praça das Artes, na região central de São Paulo. Neste ano, estima-se que colocar em pé a Feira Preta custará ao redor de R$ 600 mil.
Uma parte desses recursos será fornecida por apoiadores como Bradesco, Bayer, Cabify, Cavalera e Itaú. Mas, como nas edições anteriores, provavelmente a contribuição das empresas privadas não será suficiente para cobrir os custos. Em praticamente todos os anos, a Feira Preta tem sido deficitária.
Em outras palavras: apesar de ser uma marca consagrada junto à comunidade negra, capaz de atrair caravanas de visitantes de todo o Estado de São Paulo e de diferentes regiões do País, a Feira Preta ainda não foi devidamente valorizada, seja pelo poder público, seja pelas empresas brasileiras. Para a criadora da Feira Preta, o fenômeno reflete um desconhecimento generalizado do potencial representado pelos afrodescendentes. Afinal, eles representam 53% dos brasileiros, constituem uma população economicamente ativa de 27 milhões de pessoas, com uma capacidade de consumo estimada em R$ 1,5 trilhão. Além do desconhecimento, alinham-se o preconceito, traduzido no temor de que a Feira Preta não passe de um evento étnico, racial.
“Sempre foi difícil fazer os potenciais patrocinadores entenderem que a Feira é um negócio, já que mais da metade da nossa população é negra, com uma enorme capacidade de consumo, capaz de criar muitas oportunidades de negócios”, afirma Adriana, que reclama, ainda, da falta de linhas de financiamento no sistema bancário voltados às necessidades e peculiaridades dos empresários negros. “Eles enfrentam inúmeras barreiras para evoluir do estágio de microempreendedores”.
A despeito das adversidades (sua viagem a Nova York, por exemplo, para receber a premiação do MIPAD, foi viabilizada por uma vaquinha promovida por amigos e pelo pagamento das passagens pelo executivo Theo van der Loo, CEO da Bayer), Adriana está convencida do potencial de crescimento da Feira Preta no universo do empreendedorismo no Brasil.
Ela busca no exemplo dos Estados Unidos, onde os negros representam apenas 13% da população, menos de um quarto da proporção existente no Brasil. “Nos Estados Unidos também houve escravidão, mas lá a população negra conseguiu se superar”, diz. “Tem canais de comunicação, canais de TV, revistas, hospitais, indústrias, um mercado absurdo, enfim.”
Ela acredita que o exemplo americano mostra que os negros brasileiros têm condições de se tornar uma potência do ponto de vista econômico. “Nosso desafio é avançar na perspectiva de potencializar a população negra enquanto produtora e consumidora”, afirma Adriana, que não esconde sua admiração pela apresentadora de TV americana Oprah Winfrey, dona de uma fortuna avaliada em US$ 3,1 bilhões. “É uma fonte de inspiração”, afirma. “Além de assumir a questão racial, ela tem uma pegada criativa e é uma empreendedora incontestável.”
Fonte:
Revista Isto É
Blog do Clayton Netz
Clayton Netz foi redator-chefe da revista DINHEIRO e conta com uma coluna que leva seu nome sobre as principais novidades das empresas
Link: https://www.istoedinheiro.com.br/forca-da-cor-nos-negocios/