De olho na saúde mental do colaborador!
Nesse artigo, Liliana fala sobre a Síndrome de Burnout devido ao estresse crônico provocado pelo trabalhoPublicado em 14/04/2022
Voltar à rotina comum de trabalho após um longo período crítico de pandemia não é uma tarefa fácil. Retomar aquele ritmo acelerado tem sido um grande desafio para muitas pessoas, principalmente para quem atua no setor de serviços. Essas pessoas tem que lidar diretamente com o cliente, que a cada dia se mostra mais exigente e impaciente.
E, nesses momentos, o papel do gestor em engajar a sua equipe se torna ainda mais importante.
De acordo com o estudo Employee Engagement and Retention Report, realizado pela Achievers Reward Marketplace, houve um aumento de 71% no número de profissionais desengajados nos anos de 2020 e 2021. Ao mesmo tempo em que nos últimos anos as discussões sobre saúde emocional no ambiente de trabalho começaram a ganhar mais destaque no nosso dia a dia.
Não à toa, torna-se cada vez mais comum vermos pessoas sendo diagnosticadas com Síndrome de Burnout. Essa síndrome é causada devido ao estresse crônico provocado pelo trabalho, trazendo como consequência diversos fatores como o esgotamento da energia, o distanciamento mental e a redução da eficácia.
Mas, diante disso tudo, qual o papel que o gestor deve exercer para manter a sua equipe engajada?
Primeiramente, é preciso que o líder se cuide para que assim possa cuidar também das pessoas do time. Reconhecer quando há um problema na liderança é essencial para que os demais colaboradores não acabem sendo impactados negativamente e aumente ainda mais o desengajamento do grupo.
Esse assunto traz à tona a minha história na hotelaria, e o quanto a falta de preparação para lidar com a saúde emocional afetou a minha carreira e a minha vida pessoal.
Iniciei na hotelaria com 19 anos, como estagiária da recepção. Fui passando pelos setores com muito entusiasmo até uma vivência no exterior em um resort de luxo, onde tive a oportunidade de trabalhar como camareira. Após o retorno para o Brasil, ampliei meu escopo de trabalho, atuando em financeiro, compras, reservas, eventos, até a minha primeira liderança como supervisora de recepção.
Após um ano e meio mais ou menos, assumi o cargo de Assistente de Gerência. Minhas atividades eram assessorar meu líder direto, tanto no administrativo quanto na gestão de pessoas.
Com 22 anos, assumi o cargo de gerente operacional de uma das unidades do grupo: 120 apartamentos e 30 pessoas!
Três anos após meu primeiro estágio, um cargo de gerência! Uau!
Não imaginava que seria tão rápido. Tive alguns líderes de diferentes perfis e com cada um aprendi muito. Me sentia tecnicamente preparada para esse desafio. Eu tive inúmeras oportunidades de solucionar situações com clientes externos, internos, além da visão sistêmica adquirida por ter passado por diversos setores na hospitalidade.
Após dois anos gerenciando o empreendimento, com o dinamismo que a profissão exigia, entre metas de faturamento, ebitda, revpar, custo operacional, além da gestão de pessoas, manutenção e horas a fio trabalhando sem poder desligar o celular, me senti perdida e em dúvida se estava onde eu queria realmente estar. Um conflito interno entre ter a oportunidade que qualquer um gostaria de ter e, por outro lado, estar sem energia para executar qualquer outra coisa na minha vida que não fosse o trabalho.
Os outros aspectos da minha vida estavam totalmente desequilibrados. Apesar de ter casado durante esse crescimento pessoal, percebi o quanto minha vida girava em torno da minha vida profissional. Se não fosse o meu marido “segurar as pontas” do relacionamento, acredito que meu casamento não teria durado o primeiro ano.
Depois de alguns meses em estado de altos e baixos (mais baixos do que altos) busquei o meu líder direto na época e conversei sobre a possibilidade de um acordo para que eu pudesse sair um pouco do cenário e pensar se realmente queria me dedicar.
Resumo: me afastei por mais de quatro meses das minhas atividades. Quando retornei, tinham me substituído e me deixaram dias e dias no escritório sem escopo de trabalho, sem conversa e me pedindo para assinar declarações sobre as minhas responsabilidades no período em que eu estava atuando como gestora. Foi necessário eu falar com o corporativo para que me desligasse e eu pudesse seguir com a minha vida.
Meu gestor direto em nenhum momento quis entender o meu momento de vida e como poderia ajudar. Após inúmeras reflexões sobre essa época da minha vida, o que vejo é que eu estava preparada tecnicamente para assumir um cargo de grande responsabilidade, mas meu emocional não acompanhou essa evolução.
Ninguém me “ensinou” a impor limites e aproveitar o meu tempo livre para descarregar as energias do trabalho, ninguém me ensinou a entender meus sentimentos e buscar a solução para o caos mental que invadia minha vida pessoal. Não fui ensinada que para eu cuidar das pessoas do meu time, eu tinha que cuidar de mim mesma.
Nunca me ensinaram que trabalhar de 18 a 20 horas por dia não era normal e que a gestão do tempo era imprescindível para executar as atividades dentro do horário comercial. Ninguém me ensinou a importância que cuidar dos outros aspectos da vida é essencial para viver uma vida equilibrada e feliz.
A cultura de que você precisa se dedicar 150% para sobreviver no mundo corporativo me fez ficar cega e simplesmente executar o que tinha que executar, como prioridade, sempre até a exaustão tomar conta do meu corpo e da minha mente, com culpa de me sentir vulnerável e despreparada para continuar as minhas atividades diárias
Minha paixão pela profissão se transformou em dor e culpa, por não ter ouvido o meu próprio corpo que sinalizava há tempos que a minha saúde mental estava em frangalhos. A imaturidade emocional para lidar com certos assuntos no mundo corporativo me fizeram aprender na dor.
Tendo isso em mente, o papel do líder em incentivar a equipe vai muito além do que acontece no ambiente corporativo. Compreender o contexto no qual cada colaborador está inserido e se mostrar flexível quanto à situação faz toda a diferença. Não podemos nos esquecer que ainda estamos saindo de uma pandemia que trouxe diversas consequências emocionais para as pessoas, muitas delas ainda não superadas. Nessas horas, é preciso trabalhar a famosa e tão necessária empatia.
Já quando se trata de questões profissionais, alguns pontos devem ser observados. Uma pesquisa realizada pela plataforma de engajamento e desempenho de colaboradores Feedz, mostrou que 71% dos profissionais que trocaram de empresa voluntariamente entre 2020 e 2021 tomaram essa atitude em busca de melhores oportunidades e salários mais altos.
Com base nisso, é possível refletir sobre a forma como muitos gestores têm cuidado de suas equipes. Bons líderes devem desafiar e incentivar seus colaboradores, possibilitando que eles cresçam profissionalmente. Líderes que não deixam as pessoas pensarem sozinhas e terem liberdade para se desenvolverem fazem com que bons profissionais se sintam desmotivados e desvalorizados.
E esse sentimento negativo pode acabar gerando consequências diretas para a qualidade do atendimento e dos serviços. Para que a equipe esteja disposta a representar a marca e entender a importância do seu papel dentro dos negócios, é necessário que primeiro ela esteja bem fisicamente e psicologicamente. Do contrário, o resultado é perda para a equipe, para a empresa e sérios danos à saúde mental do colaborador.