Desperdício de alimentos e segurança alimentar em eventos
Convidamos Elizabeth Wada, coordenadora do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, para falar sobre o cenário atual e os desafios a serem vencidos.O desperdício de alimentos é uma questão mundial, somos sete milhões de bocas no mundo para serem alimentadas todos os dias; e a demanda por alimentos só vem aumentando, até 2020, as fazendas precisarão dobrar sua produção. Entretanto, hoje, 30 a 40 por cento do que é produzido, é desperdiçado, e 1.4 bilhões de hectares de terras são utilizados anualmente para produzir alimentos que nunca são consumidos, de acordo com a ONU.
No segmento de eventos, a questão do desperdício de alimentos anda de mãos dadas com a segurança alimentar, pontos que deveriam ser tratados com mais seriedade por toda a cadeia envolvida no processo dentro do trade, principalmente no Brasil, onde ainda temos um longo caminho a percorrer.
Convidamos Elizabeth Wada, coordenadora do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, para falar sobre o cenário atual e os desafios a serem vencidos.
“Apesar da existência de regulamentação e órgãos controladores, a falta de fiscalização e a diversidade de eventos, quer por localização, tamanho, natureza, fornecedores de alimentos e bebidas, faz com que, na prática, haja situações de riscos para a população. Cada serviço de alimentação precisaria ser monitorado por um profissional competente, preferencialmente da área de nutrição, para acompanhamento durante todo o evento, controlando e corrigindo questões como exposição dos pratos, temperatura, reposição, armazenamento e manuseio, bem como a higiene das instalações e dos colaboradores”, conta Elizabeth Wada, coordenadora do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi.
Ainda de acordo com Elisabeth, o desperdício é evitado com a correta programação de porções a serem servidas. Ainda assim, por questões culturais, os brasileiros não somente carecem do hábito de confirmar presença, como, em eventos sociais, sentem-se à vontade para levar outras pessoas. Isso faz com que o anfitrião se preocupe em contratar mais que o necessário, com receio “de fazer feio”.
Para minimizar o desperdício de alimentos
O Brasil caminha a passos curtos no que diz respeito as ações para minimizar o desperdício de alimentos. “No Brasil, não há permissão para doar ou reaproveitar alimentos que já tenham sido servidos e a instrução é o descarte. Dessa forma, não se trata de programa por parte dos organizadores de eventos, mas ações necessárias junto aos legisladores e órgãos reguladores. A fórmula que o leigo imagina – “carne assada vira bolinho no dia seguinte” – não é permitida pelas normas vigentes. Já nos grandes centros, há a possibilidade de estabelecer boas práticas com a elaboração de minuciosas fichas técnicas por prato, aquisição de insumos porcionados, pré-preparo e estocagem, com finalização somente para o número correto de comensais. Essa realidade, entretanto, não é a de todo o país”, ressalta Elizabeth Wada.
Os desafios
Ainda há um longo caminho a ser trilhado no que diz respeito à segurança alimentar e ao desperdício de alimentos. Fatores como o cumprimento das normas existentes; acompanhamento de nutricionistas em toda a duração de qualquer evento; conscientização de fornecedores e consumidores sobre a importância da segurança alimentar e da confirmação de comparecimento em eventos; normatização de fornecedores (microempresas e pessoas físicas que preparam alimentos) para que cumpram as regras são os principais desafios, segundo Elizabeth Wada.
Algumas práticas que ajudam a minimizar esse problema, são trabalhar com informações detalhadas sobre o perfil do público do evento e definir o cardápio com objetivo de agradar a maior parte, além de calcular as porções de forma inteligente e investir na conservação e no bom aproveitamento dos alimentos.
Você sabia?
A FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura estima que 6% das perdas mundiais de alimentos se encontram na América Latina e no Caribe e que, a cada ano, a região perde ou desperdiça cerca de 15% dos alimentos disponíveis.
Ações para resolução da questão do desperdício
O manual prático da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura detalha três níveis onde são necessárias ações para resolver a questão do desperdício. Uma delas é dar prioridade à redução do desperdício de alimentos. Além da redução de perdas resultantes de más práticas nas atividades rurais, é necessário um maior esforço para equilibrar a oferta e a demanda, para que não se desperdicem recursos naturais desnecessariamente; no caso dos excedentes alimentares, a melhor opção é a reutilização dos alimentos na cadeia alimentar humana, através de mercados secundários ou da doação aos membros mais vulneráveis da sociedade. Se os alimentos não estão em condições para o consumo humano, a melhor opção é desviá-los para a cadeia alimentar animal, poupando recursos que, de outra forma, seriam necessários para produzir ração comercial.
Quando a reutilização não é possível, deve proceder-se à reciclagem e recuperação: a reciclagem de subprodutos, a digestão anaeróbia, a compostagem e a incineração com recuperação de energia, permite que se recupere a energia e os nutrientes provenientes do desperdício, o que representa uma vantagem significativa em relação aos aterros.
Fonte: fao.org.br