Cerveja: uma paixão corporativa
A cerveja tem ganhado cada vez mais espaço no mundo corporativo e de experiênciaA relação da cerveja com o mundo corporativo tem se alterado nos últimos anos. A diversidade de marcas e estilos fez com que a bebida alcançasse novos públicos e espaços. E com o mundo corporativo não é diferente. É latente o interesse de influenciadores e tomadores de decisão pela bebida, ocasionado principalmente pela democratização estimulada pelas cervejarias artesanais. Assim, vivemos um momento de “glamourização” da cerveja, promovendo esta bebida a um patamar antes ocupado pelo vinho, tornando a “loura” presença certa nos eventos corporativos, sendo a personagem principal (como por exemplo, em encontros de negócios com a degustação de diversas marcas e rótulos), ou em experiências diferenciadas, como as visitas aos fabricantes.
Primeiro passo
O mestre cervejeiro Henrique Dal Farra, proprietário da Carranca Cervejeira de Avaré, interior de São Paulo, é testemunha da mudança do mercado: “Acredito que a cerveja tem mais facilidade de aceitação em qualquer evento, e a cerveja artesanal, que é o segmento que o mundo corporativo tem prestado mais atenção, faz isto com requinte. Tenho notado que muitos dos meus clientes são do mercado corporativo”.
Rodney Christofaro, proprietário da loja virtual Cerveja e Atitude, considera que o nicho cervejeiro está cada vez se transformando em “mainstream”, ou seja, um movimento com características dominantes: “As pessoas, com acesso cada vez maior à informação, tanto passiva como ativa, obtém o conhecimento necessário. Assim como era o vinho até um passado não tão distante, a cerveja passa por um processo de “gourmetização”, mas não de uma forma pejorativa, mas sim para levar a cerveja a um patamar que sempre desem- penhou, como uma bebida de extrema importância histórica, e, porque não, na saúde e desenvolvimento da humanidade”.
Negócio dourado
Para Rafael Konda, proprietário da Mucha Breja, primeira agência do país especializada na publicidade de cervejas especiais, a cerveja artesanal já é uma
realidade consolidada, visto a quantidade de eventos realizados anualmente pelo Brasil a fora e pelo número de rótulos e novas cervejarias que abrem anualmente. “Ao meu ver, a cerveja tem diferenciais competitivos que a tornam um produto coringa no mundo corporativo”, diz Konda. “A cerveja tem um caráter muito mais informal que o vinho e com muito mais variedade de sabores, agradando todos os públicos e tornando-a ideal para as reuniões do mundo corporativo”, relata Renato Melo, também sócio da Mucha.
Eventos corporativos
Uma tendência em expansão no Brasil é a realização de eventos corporativos tendo a cerveja como personagem principal. Rafael Konda afirma que nos últimos quatro anos a cultura da cerveja artesanal no Brasil tem crescido com uma força impressionante: “A variedade e a complexidade dos estilos fornecem meios para que as empresas possam utilizá-la como meio ou até fim para confraternizações ou ações mais direcionadas”. Renato Melo crê que em 2017 e 2018 o número de eventos corporativos que utilizam a cerveja como mote aumente substancialmente: “A cerveja tem um caráter muito mais informal que o vinho e com maior variedade de sabores, agradando vários públicos”.
A visão geral de marcado de Konda e Melo aumenta quando avaliamos que o Mucha Breja, além de agência, alia no mesmo espaço uma loja de cervejas especiais em um estilo pub inglês.
“Com a nossa estrutura, realizamos inúmeros eventos em parceria com o mercado regional de Santos. Também é realizada mensalmente uma roda de debates com os profissionais de publicidade”, finaliza Rafael Konda.
O Let´s Beer se localiza em São Paulo e é outro espaço dedicado à cerveja artesanal. Guto Procópio, publicitário e proprietário do local, aponta que apesar do bar existir há quatro anos, foram nos últimos dois que o local passou a atender com maior frequência os eventos corporativos: “Estamos realizando eventos corporativos com grande sucesso, gerando degustações apenas de cervejas artesanais e serviços exclusivamente realizados por sommeliers. Uma curiosidade é que muitas empresas estão organizando eventos dentro das suas estruturas e solicitando o nosso atendimento, sempre tendo a cerveja como carro-chefe”. O promotor de eventos Tiago Santana observa que o próprio mercado tem se tornado flexível em relação à cerveja: “Eventos de negócios em que a cerveja é o destaque já é uma realidade. Isto se dá graças à intima relação entre muitos empresários com a bebida, principalmente em relação à sua fabricação artesanal”.
A cerveja como experiência
Várias fábricas de cervejas abrem suas fábricas para a visitação dos aficcionados da bebida. Atenta ao crescimento do mercado corporativo, a CVC Viagens criou um o roteiro no Circuito Cervejeiro na região Serrana do Rio de Janeiro no final de 2016. Aldemir Cavalcanti, gerente de produtos da empresa, informa que o turismo de experiência, nicho de viagem que vai muito além dos circuitos tradicionais, vem conquistando o viajante corporativo brasileiro: “A procura tem superado as nossas expectativas, tanto que estamos estudando a possibilidade de criar outros roteiros como esse, com visitação a outras cervejarias no País”.
As palavras de Aldemir refletem perfeitamente a variedade de opções disponíveis no Brasil. Outros importantes centros também oferecem viagens cujo tema central é a cerveja. Em São Paulo, a cidade de Ribeirão Preto e suas microcervejarias, Campos do Jordão, com a Baden Baden, e Votorantim, com a Bamberg, são bons exemplos. A influência alemã se destaca nas cervejarias catarinenses espalhadas por todo o estado. Festivais como a Oktoberfest, em Blumenau, Sommerfest Blumenau e o Festival Brasileiro da Cerveja-SC são considerados referência no setor. A Rota das Cervejas catarinense reúne 15 cidades, 21 cervejarias em sete regiões diferentes. O presidente da Associação das Microcervejarias Artesanais de Santa Catarina (Acasc), Carlo Lapolli, observa que a movimentação do mercado corporativo em relação à cerveja artesanal é um importante nicho de mercado que os produtores precisam prestar atenção: “Comprovamos no nosso dia a dia uma demanda maior. Nossos associados têm criado importantes iniciativas, como abrir as suas fábricas para visitação. Percebemos um crescente na presença de grupos corporativos, um segmento que merece uma demanda maior de eventos e produtos”. Só em Santa Catarina são produzidos por mês mais de 1 milhão de litros da bebida. O Estado tem cerca de 50 fabricantes que devem investir, só este ano, mais de R$ 22 milhões.